As Prévias no Recife, por Marcos Coimbra

27/05/2012 12:50

POLÍTICA

A recente decisão da Executiva Nacional do PT de anular as prévias para escolha do candidato a prefeito do Recife é mais uma oportunidade para discutir esse mecanismo no Brasil.

Realizada pelo Diretório da capital pernambucana, no último domingo - com os ânimos dos militantes em ebulição e em meio a uma guerra de liminares -, ela foi vencida, segundo apurações oficiosas, pelo atual prefeito, João da Costa (PT), que pretende se recandidatar. O resultado não chegou a ser divulgado, mas ninguém duvida que o vitorioso foi ele.

A Executiva considerou que as prévias foram irregulares - pois dela participaram filiados que não estavam aptos a votar - e marcou novas, para o início de junho.

No Recife, opõem-se duas pré-candidaturas petistas. Além do prefeito, o deputado Maurício Rands quer a vaga, e conta com o apoio das principais lideranças do partido no estado - o ex-prefeito e deputado João Paulo e o senador Humberto Costa.

Dispõe, também - e esse é o ponto fundamental -, do endosso do governador Eduardo Campos (PSB), de quem é secretário de Governo. Por extensão, seria o candidato da ampla coligação partidária que sustenta o governador.

Campos, como se sabe, é uma das mais cobiçadas noivas na eleição de 2014. Todos querem se casar com ele - no PT e nas oposições. (Consta que seria, por exemplo, o companheiro dos sonhos de Aécio, que adoraria tê-lo em sua chapa, como vice-presidente.)

Com seu imenso prestígio em Pernambuco e boa imagem no Nordeste, ele é, desde já - independentemente do que quiser fazer em 2014 - um dos “grandes eleitores” na sucessão de Dilma. Em um dos cenários possíveis - mas não o mais provável - ele próprio poderia ser candidato a Presidente.

Para aumentar os argumentos em favor de mantê-lo próximo do governo federal e do PT, sempre pareceu estratégico à direção nacional marchar com ele na eleição da capital. Ainda que Rands não tivesse o aval de mais ninguém, sua candidatura já seria forte somente por isso.

O único - e nada pequeno - problema para que as coisas se encaminhassem nessa direção é que o Diretório Municipal - ao qual compete a decisão sobre candidaturas locais - pensava diferente. O atual prefeito, naturalmente bem representado nele, se via com direito a disputar a reeleição.

O PT, de todos os partidos relevantes, é o único que sempre teve as prévias como instrumento habitual de decisão. Até em situações em que eram formalmente desnecessárias, as realizou, pensando em seus efeitos positivos na consolidação do espírito de corpo partidário.

Em alguns casos significativos, a direção nacional do PT manobrou para evitar que acontecessem: quando acreditava que elas poderiam levar a resultados conflitantes com sua estratégia maior. Acabamos de presenciar algo assim, no processo que levou à escolha de Fernando Haddad em São Paulo.

Não foi o primeiro e não será, provavelmente, o último. (Quem não se lembra das diversas gestões que Lula coordenou, em 2010, para cimentar a aliança em torno de Dilma - como a que levou o PT de Minas Gerais a não ter candidato a governador?)

Os partidos políticos fazem prévias, no mundo inteiro, somente quando elas os beneficiam. Seria irracional que se obrigassem a realizá-las, expondo desavenças ou colocando em risco, por motivos secundários, objetivos estabelecidos por seus órgãos de direção.

Não há nada de anti-democrático em não fazê-las nesses casos, mesmo para um partido que as faz costumeiramente, como o PT.

Tampouco foi anti-democrática a atuação do PSDB paulista este ano, quando interveio nas prévias para escolha do candidato a prefeito da capital, impondo a candidatura Serra. Pode ter sido equivocada, mas não ilegítima.

Ao agendar a nova prévia no Recife, a Executiva Nacional reconhece a João da Costa o direito de ser candidato. E se compromete a assegurar aos filiados condições menos conturbadas de escolha.

 

Marcos Coimbra é sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi

Fonte: Blog do Noblat/O Globo

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