Evento cobra decisões mais ambiciosas na Rio+20

20/06/2012 18:16

Autor: Fernanda B. Mûller   -   Fonte: Instituto CarbonoBrasil

Diálogos Intergeracionais sobre Sustentabilidade reúnem ativistas do mundo todo em uma só voz pedindo que um documento concreto resulte das negociações formaise não apenas objetivos genéricos de desenvolvimento sustentável


Contando com jovens ambientalistas e renomados ativistas de direitos humanos, o evento “Diálogos Intergeracionais sobre Sustentabilidade”, realizado nesta terça-feira (19), na Cúpula dos Povos, serviu de motor para as centenas de pessoas presentes esperançosas que a mudança para uma sociedade mais justa e menos depredadora ainda seja possível.

”Aqui é onde as sementes do futuro serão realmente plantadas”, festejou a ambientalista e física indiana Vandana Shiva.

Ela lamentou que a negociação do documento final da Rio +20 possa acabar desfazendo o que foi conseguido na Eco 92, e ressaltou: “Um futuro que apaga a história está morto”.

Fernanda Kaingang, primeira advogada indígena a obter o título de Mestre no Brasil, lastimou a forma como os indígenas estão sendo tratados durante estas semanas no Rio de Janeiro, “abandonados” no Sambódromo (Leia mais), completamente excluídos das discussões no evento oficial que envolvem o seu lar, a floresta.

A importância de estar presente nos espaços de negociação multilateral, por mais ambíguos que seus objetivos sejam, foi enfatizada por Heloísa Helena, que acredita ser possível fazer a diferença e especialmente mostrar que “queremos sim o progresso econômico, a geração de renda, a dinamização da economia local e a geração de energia”.

Lembrando Edgar Morin, Marina Silva falou sobre a comunidade de pensamento e o diálogo entre saberes, entre as diferentes culturas, o que estava sendo concretizado durante o evento.

Ela lembrou que antes e durante a ECO 92 foram elaborados e criados importantes instrumentos como a Agenda 21, os termos de referência para a Carta da Terra, a Convenção sobre Diversidade Biológica e a Convenção do Clima. O que faltou foi a governança nos estados e países, sendo que muitos criaram suas legislações, inclusive o Brasil.

Porém, Marina lamenta que esta última esteja sendo “removida”.

“Precisamos é dos meios para implementar, no Brasil estão decidindo da seguinte forma: já que dá trabalho implementar, já que cria conflitos, já que implementar fere os interesses imediatistas... então vamos revogar o que puder”.

Quanto à Rio +20, ela critica o possível resultado baseado na definição de objetivos para o desenvolvimento sustentável, enfatizando que estes objetivos já foram detalhados pelo relatório ‘Nosso Futuro Comum’ da década de 1980: sustentabilidade ambiental, social, econômica, cultural, ética, política e estética.

“Estão dizendo que esses serão os resultados”, adiciona, “por que as pessoas aprenderam que a melhor coisa quando não se quer fazer nada num processo multilateral é criar objetivos genéricos. Nós criamos os objetivos do milênio e nós determinamos 2015 como o prazo, e a avaliação é que pouco foi implementado”.

Outro fato lamentável, segundo Marina, foi o exílio da ciência nos debates, não levando em conta conclusões importantes como relatórios do PNUMA sobre a urgência da situação da Terra.

“Exilaram a ciência e domesticaram a maior parte dos políticos”; entretanto, ela comemora: “ainda bem que estamos aqui criativos, produtivos, livres na nossa imensa capacidade de acreditar”.

Marina alerta que não há tempo para uma transição demorada, “o planeta está em risco, resultados... no passo que estão indo, vamos chegar em 2200, se chegarmos”.

Nesses vinte anos desde a ECO 92, pouca coisa mudou, comentou, “mas uma coisa sim mudou: a consciência das pessoas, a mobilização no Rio é enorme. O que o pessoal da visão estagnada da política não percebe, é que esta é uma ideia cujo tempo chegou e não há nada mais mobilizador”.

Marina ainda deixou um recado para a presidente Dilma: “Aqui é um diálogo intergeracional, é um espaço de executar o que há de mais elevado na ética, que é a ética com aqueles que ainda não nasceram, ética do respeito... Não perca a oportunidade de fazer a diferença que simbolicamente uma mulher pode fazer”.

Ela pediu que fosse realizado um processo diferente na Rio +20, não saindo com objetivos genéricos,” mas com uma proposta séria sobre governança e de um fundo para implementar as ações nos países pobres, pois os países emergentes e os ricos tem que fazer o dever de casa. A sociedade está aqui para dar suporte político à presidente”.

“O que o mundo precisa é de quem tem posição”, concluiu Marina sob os aplausos e gritos da multidão presente no evento, o que reflete a indignação de grande parte da população com o modelo de desenvolvimento atualmente em crise ao redor do mundo.

 

 

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