Loteamento é ameaça para área verde

18/08/2012 14:23

ESPECULAÇÃO IMOBILIÁRIA 

 Foto: Blog da Ciência e Meio Ambiente

Loteamento criado há mais de 50 anos e nunca implantado, no bairro do Fundão, ameaça uma área verde de 72 mil metros quadrados na Zona Norte do Recife. O terreno, conhecido como Sítio da Viúva, é um pouco maior do que o Parque da Jaqueira e serve de refúgio para mamíferos e aves. Projeto para dar uso aos lotes foi apresentado à Prefeitura do Recife e está sendo analisado pela Secretaria de Meio Ambiente.

O pedido encaminhado ao município não deixa claro o tipo de empreendimento previsto para o lugar, uma propriedade particular toda murada. “Um requerente, que não é o proprietário do sítio, solicita informações sobre os parâmetros de construção adotados no terreno. É uma consulta de viabilidade”, diz o arquiteto Maurício Guerra, diretor de Políticas Ambientais do Recife.

De acordo com o arquiteto, é possível construir no Sítio da Viúva, no entanto há restrições. A mata do Fundão foi transformada em Imóvel de Preservação de Área Verde (Ipav) desde abril do ano passado, pela Lei Municipal nº 17.692/2011, com outras 35 localidades. Num Ipav, 70% da vegetação devem ser preservados, ficando 30% do terreno para edificações.

Além disso, o sítio guarda espécies da mata atlântica, em estágios inicial e avançado de regeneração, acrescenta Maurício Guerra. “A Lei Federal nº 11.428/2006 restringe o corte e supressão da vegetação de mata atlântica”, avisa. O Sítio da Viúva tem 72.777 metros quadrados, o equivalente a 7,27 hectares. O Parque da Jaqueira, área de lazer da Zona Norte do Recife, tem 7 hectares.

“A área virou Ipav pela importância ambiental, é fundamental para a manutenção do verde numa região muito adensada. A mata ajuda a reduzir o calor, contribui com a absorção da água de chuva, diminui os riscos de deslizamento de terra e abriga a fauna”, destaca Maurício Guerra. Na avaliação do arquiteto, o fato de o terreno estar murado e vigiado demonstra interesse do proprietário na preservação ambiental.

Saguins, jandaias, corujas, sabiás, lagartos, cobras e tatus vivem no Sítio da Viúva, segundo relato de moradores e do vigia que toma conta da área há 14 anos. “Os donos não querem lotear nada, isso aqui é o oxigênio da comunidade”, diz o vigia, sem se identificar. Ele fez contato, por telefone, com representantes do terreno, que preferiram não comentar o assunto com os repórteres.

Na mata, há pés de manga, macaíba, coco, jaca, pitomba e cajá, entre outras espécies vegetais. “O bairro é carente de lazer e de área verde. O sítio podia ser o nosso parque público, com pistas de cooper e caminhada. Queremos que o lugar seja preservado e não desmatado. Seria um crime derrubar as árvores”, destaca o morador Alberes Anselmo da Silva.

“As araras saem da mata de Dois Unidos, param aqui, seguem para a mata de Dois Irmãos e para a mata de Brennand, na Várzea, em busca de alimentos. Elas ficam sempre assim, indo e voltando”, diz o vigia. Segundo ele, o lugar não é aberto à visitação. “Só com autorização do patrão.” Também não tem moradias. “Antigamente, os caseiros viviam aqui. Depois que eles morreram, ninguém mais mora no sítio e o mato tomou conta da casa.”

Habitante do Fundão há 30 anos, Valdeci de Oliveira define o entorno da mata como “um espetáculo de manhã cedo”, por causa do canto dos pássaros. “Na minha opinião, podiam preservar o trecho mais fechado do bosque e fazer o loteamento na área menos vegetada. Mas se forem lotear, que seja um projeto decente”, diz.

O advogado Hélvio Polito, secretário-executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Estado, disse que um loteamento dos anos 50 (não implementado) continua válido até hoje se, além de aprovado, estiver registrado em cartório. “Na década de 50, o modelo de urbanização da cidade era outro, nem se respeitava cursos d’água”, pondera Maurício Guerra.

Fonte: Blog da Ciência e Meio Ambiente, por Verônica Falcão

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