Mutum de volta à natureza
Publicado no Jornal do Commercio, em 4 de março de 2012.
Devolver à natureza o mutum-do-nordeste, hoje existente apenas em cativeiro, é a meta de plano de ação nacional publicado recentemente no Diário Oficial da União. A meta é reproduzir a ave em criadores particulares para iniciar, em 2017, a reintrodução na mata atlântica, onde os últimos exemplares da espécie foram vistos, na década de 80 do século passado.
A população remanescente de mutum-do-nordeste vive em dois criadouros de Minas Gerais, um em Poços de Caldas e outro em Contagem. O primeiro – o Criadouro Científico e Cultural Poços de Caldas – pertence a Moacyr de Carvalho Dias e o segundo – a Fundação Crax – a Roberto Azeredo.
São 121 animais, apenas 54 deles geneticamente puros. É que a espécie, conhecida entre os cientistas como Pauxi mitu, foi misturada a tipos de mutuns amazônicos. A hibridização ocorreu num criadouro no Rio de Janeiro, que não existe mais, que adquiriu os cinco últimos exemplares de vida livre, num remanescente de mata atlântica de Alagoas desmatado em seguida.
No plano de ação, que figura na edição do DOU de 22 de fevereiro, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) determina, ainda, o manejo dos mutuns-do-nordeste em cativeiro, para promover o aumento populacional e garantir a sobrevivência da espécie, considerada extinta na natureza.
A bióloga Sônia Aline Roda, que integra o grupo de trabalho responsável pela implementação do plano de ação nacional, adianta que casais da ave serão transferidos para três criadouros, em São Paulo, Paraná e Rio de Janeiro.
“Se os mutuns que vivem nos criadouros de Minas, por exemplo, forem acometidos de uma doença grave, haverá populações em outros locais”, justifica a ornitóloga, que participou da elaboração do plano.
As outras metas serão estabelecidas em reunião programada para os dias 20, 21 e 22 de março, em Maceió. “Estamos, também, planejando a transferência de um casal de mutuns, ao menos dos híbridos, para Alagoas”, antecipa o presidente do Instituto para a Preservação da Mata Atlântica (IPMA), ONG alagoana que trabalha junto às usinas de açúcar e de álcool da região. “São elas que guardam os últimos remanescentes de floresta atlântica”, justifica o ambientalista.
A ideia é construir um viveiro em Maceió, onde os visitantes poderão conhecer a ave. “No Nordeste, quase ninguém mais sabe como é o mutum. O trabalho de educação ambiental é importantíssimo para o sucesso do programa de reintrodução. E esse contato com os animais é fundamental para que isso aconteça”, diz Fernando Pinto.
Levantamento do Centro de Pesquisas Ambientais do Nordeste (Cepan) identificou a existência de 19 remanescestes florestais – todos em usinas - propícios à reintrodução. Integram a lista Cachoeira, Caeté, Coruripe, Porto Rico, Serra Grande, Sinimbu, Sumaúma, Triunfo e Utinga Leão. A ornitóloga Sônia Roda, que integrou a equipe do Cepan e é uma das autoras do plano de ação para a conservação do mutum-do-nordeste, informa que apenas Serra Grande se situa fora da área de registro da ave, mas tem uma extensa área preservada.
Além da hibridização, outra ameaça à espécie é o desmatamento, inicialmente para a expansão da cana-de-açúcar, e agora para a produção de lenha e carvão. Boca da Mata, um dos municípios alagoanos onde há registros históricos da presença do mutum, é o maior produtor de carvão do Estado.
Fonte: Blog da Ciência e Meio Ambiente
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