Reeleito, Obama promete ação contra mudanças climáticas

07/11/2012 21:09

Em seu discurso da vitória, presidente dos Estados Unidos alerta contra poder destrutivo do aquecimento global, mas críticos afirmam que iniciativas do chefe da Casa Branca ainda são muito brandas para combater o fenômeno


Por Jéssica Lipinski*

Após uma longa e acirrada campanha eleitoral pela disputa do governo norte-americano, o Democrata Barack Obama bateu seu oponente, o Republicano Mitt Romney, e se reelegeu presidente dos Estados Unidos. E, depois de um prolongado silêncio, Obama finalmente falou sobre um assunto que foi evitado durante toda a campanha: as mudanças climáticas.

Em seu discurso da vitória, o presidente reeleito prometeu agir para mitigar as consequências das mudanças climáticas nos EUA. “Queremos que nossas crianças vivam em uma América que não esteja onerada pela dívida, que não esteja enfraquecida  pela desigualdade, que não seja ameaça pelo poder destrutivo de um planeta em aquecimento”, declarou.

Obama acrescentou que estava “mais determinado e mais inspirado do que nunca” para enfrentar questões sobre o futuro de seu país, incluindo “libertar-nos do petróleo estrangeiro”.

Andrew Steer, presidente do Instituto de Recursos Mundiais, comentou que as mudanças climáticas devem aparecer no topo da agenda do presidente, especialmente com os recentes incidentes da tempestade Sandy em Nova York e outros estados da costa leste dos EUA. Steer pediu que Obama execute uma estratégia climática e energética nacional forte, incluindo a precificação do carbono.

“Muitas empresas líderes estão procurando mais clareza para se manterem competitivas na economia global e obtêm vantagem com o emergente mercado de US$ 2,3 trilhões da energia limpa. Eles precisam estabelecer metas de longo prazo, que estão atualmente sendo anuladas pela abordagem fragmentada dos EUA sobre clima e energia”, disse ele.

Entre as estratégias do presidente para mitigar os efeitos das mudanças climáticas, estão o desenvolvimento de diversas fontes de energia, com foco nas renováveis como eólica, solar e biocombustíveis. E embora Obama não descarte a utilização do petróleo, do gás natural, do carvão e da energia nuclear, ele afirma estar tomando medidas para tornar a utilização destas energias mais limpas.

Críticas e um congresso dividido

Mas apesar de apresentar propostas e alternativas mais amigáveis ao clima e ao meio ambiente do que seu adversário político, o não pronunciamento de Obama na campanha sobre as mudanças climáticas, bem como seu posicionamento durante seu mandato anterior, renderam muitas críticas ao presidente.

Alguns especialistas, inclusive, comparando o Democrata e o Republicano, chegaram a afirmar que ambas as políticas climáticas são insuficientes para combater os impactos do aquecimento global, e que essa posição dos EUA sobre mudanças climáticas não é uma questão de determinada administração, mas uma postura ligada a uma mentalidade nacional.

“A posição dos EUA sobre mudanças climáticas se transformou em uma subtrama da posição política dos EUA e da China no cenário geopolítico. O resultado é uma tendência a um impasse. Ambos têm uma preferência compartilhada de não atar as mãos com tratados internacionais impostos”, comentou Michael Zammit Cutajar, primeiro secretário executivo da Convenção Quadro nas Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC).

Além de enfrentar a crítica de especialistas e grupos ambientais, Obama também terá que confrontar-se com os obstáculos interpostos por um congresso dividido entre Democratas e Republicanos, que conseguiram, em seu último mandato, barrar diversas propostas que visavam conter a degradação ambiental, combater as mudanças climáticas e incentivar o uso de energias renováveis.

Negociações internacionais

O resultado das eleições não foi acompanhado de perto apenas pelos norte-americanos, mas também pela comunidade internacional e pelos atores das negociações climáticas, cujas decisões também dependem da posição dos EUA em relação aos acordos climáticos globais.

“Todos sabem que essa eleição fará muita diferença no futuro dos acordos climáticos internacionais. Acordo global e abrangente sem os EUA não faz sentido… Será muito difícil para alguns países irem em frente, como já vimos com o Protocolo de Quioto”, disse Tony La Viña, negociador climático das Filipinas.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, parabenizou Obama pela vitória, afirmando que está ansioso para trabalhar com o norte-americano em questões globais como as mudanças climáticas e que a ONU espera continuar contando com os EUA para um engajamento ativo em problemas mundiais.

“Muitos desafios esperam à frente – do término do derramamento de sangue na Síria, ao estabelecimento do processo de paz no Oriente Médio, à promoção do desenvolvimento sustentável e ao enfrentamento dos desafios postos pelas mudanças climáticas. Todos exigirão cooperação multilateral forte”, declarou Ban.

Steer, no entanto, cobrou por um papel mais ativo nas negociações climáticas por parte dos EUA. “O presidente Obama mostrou o poder da liderança ousada em grandes questões internacionais e ele tem a oportunidade de fazer de um acordo climático internacional ambicioso parte de seu legado”, concluiu.

Imagem: Destruição deixada pela tempestade Sandy na costa de Nova Jersey / Mark C. Olsen / U.S. Air Force / Wikimedia Commons

 

*Publicado originalmente no site Instituto Carbono Brasil

 

 

Tópico: Reeleito, Obama promete ação contra mudanças climáticas

Nenhum comentário foi encontrado.

Novo comentário